Muitas vezes acreditamos que
a solução para nossos problemas está fora de nosso alcance, inacessível, e nos
sentimos impotentes, vencidos.
É a pressa, o acúmulo de coisas a fazer a cada dia, as pendências,
as contas... que nos tornam estressados e nos impedem a calma para pensar e encontrar novos caminhos.
É a pressa, o acúmulo de coisas a fazer a cada dia, as pendências,
as contas... que nos tornam estressados e nos impedem a calma para pensar e encontrar novos caminhos.
Então nos conformamos e
deixamos acontecer. Não assumimos
o controle de nossa vida. “Deixamos a vida nos levar.”
o controle de nossa vida. “Deixamos a vida nos levar.”
Assim acontece também com
nossas graves questões sociais, que implicam segurança, educação, cultura. Contemplamos
uma paisagem social desarmoniosa, com sérios desníveis de cultura e segregação
das classes mais pobres, convivemos diariamente com altos índices de violência,
medo e desconfiança. Vemos isso na rua, assistimos na TV, ouvimos no rádio, nas
rodas de conversa.
Os meios de comunicação de
massa, com seu modelo de jornalismo sensacionalista, têm enorme parcela de
responsabilidade na construção e na manutenção desse quadro negativo em nossa
mente. A impressão que nos passam é de que a violência caminha para o terror, a
insegurança toca os limites da paranoia e cada dia mais se consolida a
descrença em um futuro melhor.
No entanto, essa nossa
percepção do mundo e da vida está errada, distorcida. Nossos sentidos se
habituaram aos acontecimentos negativos e construímos com suas impressões a
imagem desalentadora que ocupa nossa mente e interfere em nossas emoções.
É certo que ainda não
corrigimos diversas falhas e desequilíbrios em nossos sistemas social, político
e econômico, não superamos o atavismo carregado de velhos conceitos e vícios que
nos impedem a aquisição de novos valores e um crescimento mais acelerado. Mas
já acumulamos muitas conquistas, nas esferas do conhecimento, da moral e da
ética, que nos capacitam para grandes transformações. Isso se reflete nas
instituições de direito atuais, voltadas para a criança, o adolescente, a
mulher, o idoso...
E dispomos de inteligência, criatividade e os instrumentos para promover essas mudanças. Talvez o que nos falte sejam a vontade e a decisão para isso.
E dispomos de inteligência, criatividade e os instrumentos para promover essas mudanças. Talvez o que nos falte sejam a vontade e a decisão para isso.
Uma barreira monumental,
todavia, nos tolhe a vontade e a iniciativa de mudar nossa vida e a atmosfera
social a nossa volta: o individualismo.
Este é o nosso inimigo número 1. E afeta a cada um de nós, como pessoas comuns,
e a todos que assumiram o compromisso de cuidar de nosso bem-estar e progresso,
que são os políticos, os gestores, os administradores, nossos representantes no
“poder”.
Tivessem eles, de verdade, o
espírito de servir e empregassem todo o seu potencial de conhecimento e
experiência no cumprimento de sua responsabilidade com a sociedade, nossa
realidade seria bem outra, e sem dúvida muito melhor.
De igual modo, nossos intelectuais, acadêmicos, religiosos, associados a instituições de Direito, Sociologia, Psicologia, Educação e tantas outras áreas do conhecimento, da pesquisa e do saber, nossos líderes nos diversos setores sociais, quanto poderiam fazer se estivessem norteados pelos ideais de desenvolvimento e progresso coletivo!
De igual modo, nossos intelectuais, acadêmicos, religiosos, associados a instituições de Direito, Sociologia, Psicologia, Educação e tantas outras áreas do conhecimento, da pesquisa e do saber, nossos líderes nos diversos setores sociais, quanto poderiam fazer se estivessem norteados pelos ideais de desenvolvimento e progresso coletivo!
E, especialmente, se cada um
de nós, em vez de apenas manifestar a indignação e críticas a essa situação
ruim que constatamos, tivesse a iniciativa de contribuir para a melhoria que desejamos,
imagine o surpreendente resultado! Atitudes, no modo de pensar, de ver e de
agir, nas relações em família, no trânsito, na empresa, na escola, na rua...
Contudo, para a
transformação dessa paisagem social, a médio e longo prazo, é imprescindível
nossa atenção e investimento amplo e contínuo num setor básico e fundamental: a
infância.
Tudo começa na infância, até
mesmo uma ideia.
Nossa história, o que somos,
o que fizemos, teve um princípio, uma infância. A partir dela, vivemos a
aventura de experimentar, conhecer, amadurecer e saber.
Parece que nos esquecemos de
que, na estrutura da sociedade, a família é a fundação, de onde todos nós
viemos. E é na infância que recebemos os princípios, a educação, as orientações
que vão nos guiar ao longo de toda a nossa vida. As famílias são as células que
compõem toda a nossa organização social, e sua razão de ser.
Se uma única família não
tiver as condições mínimas necessárias para oferecer a seus filhos esses
princípios e orientações para seu desenvolvimento, toda a sociedade será
afetada e terá que suportar as consequências advindas das distorções no caráter
e na personalidade dessas crianças quando adultos e no pleno exercício de seu
livre-arbítrio.
Nós os consideramos
responsáveis, enquanto “maiores de idade”, emancipados, mas responsáveis somos
todos nós: a família, a escola, a comunidade, o Estado. Todos fomos omissos, ou
agimos mal, em cada fase e em cada setor por onde eles tenham passado.
Mesmo assim, esses indivíduos,
então já feitos homens e mulheres, vão constituir novas famílias e oferecerão a
seus filhos apenas aquilo que têm!...
Imaginemos agora milhares,
milhões de famílias nessa situação, sem os recursos mínimos, materiais e
morais, para a educação de suas crianças!
É por essa razão que
assistimos hoje a esse cenário de vícios, crimes, degradação e exclusão social.
E de que modo a sociedade,
que somos nós e nossos representantes, reage a isso? Penalizando essas pessoas,
condenando-as ao isolamento, à prisão, à promiscuidade e, muitas vezes, à
morte.
Perguntemos, nas rodas de
conversa, o que as pessoas pensam sobre o que se deveria fazer com as crianças,
adolescentes e adultos que vivem pelas ruas e favelas, envolvidos com as
drogas, o tráfico e os crimes. Com certeza muitos de nós já ouviram respostas
como “O certo é matar todo mundo!”
Uma frase que ouvi do
escritor e orador Divaldo Pereira Franco sintetiza bem esse paradoxo. Dizia ele
que a adoção da pena de morte pela sociedade é o atestado de sua própria
falência.
É um terrível engano pensar
que uma criança abandonada na rua, um mendigo na calçada ou uma família socialmente
excluída numa favela nada tem a ver conosco. Ao contrário, tem tudo a ver com cada
um de nós e com a sociedade inteira!
De uma maneira ou de outra, pagaremos
o preço por nossa omissão, indiferença e exclusão. Por exemplo, a criança
deixada hoje abandonada à própria sorte poderá ser amanhã o assaltante que nos
surpreenderá no farol, ou que estará aliciando nossos filhos nas vizinhanças da escola,
explodindo caixas eletrônicos, realizando sequestros relâmpagos... Ou seja,
poderão ser os autores e os protagonistas dos noticiários de violência que
ouvimos diariamente.
Quando são presos, o alto
custo para sua manutenção é debitado em nossa conta de impostos – além de terem
sua situação agravada pela estrutura ineficiente de nosso sistema penitenciário;
se ficam doentes, se são mortos, de qualquer modo vão gerar elevado ônus para
toda a sociedade.
E suas famílias, mulheres, filhos, que destino terão?
E suas famílias, mulheres, filhos, que destino terão?
No entanto, o anverso dessa
história também é verdadeiro: tudo o que for feito para a garantia dos direitos
da criança e todo o investimento em benefício de seu desenvolvimento refletirão
no adulto em que ela se tornará, afetando de modo positivo sua família, sua
comunidade e toda a sociedade.
A infância é uma sementeira
fértil, que pode produzir bons frutos se
a cultivarmos com o necessário cuidado e carinho, ou naturalmente veremos crescer as ervas daninhas espalhando seus frutos nocivos, refletindo nossa displicência e irresponsabilidade.
a cultivarmos com o necessário cuidado e carinho, ou naturalmente veremos crescer as ervas daninhas espalhando seus frutos nocivos, refletindo nossa displicência e irresponsabilidade.
O que fazer?
No âmbito do governo, políticas
públicas sérias e bem planejadas, direcionadas para todas as áreas e de forma
abrangente, como nutrição, saúde, educação, que contemplem a criança e a
família, prioritariamente, vão prevenir a maior parte das disparidades e dramas
sociais que vivemos.
No âmbito da iniciativa
privada, o cumprimento da responsabilidade social pelas empresas, ONGs,
federações, associações, órgãos representativos de classes, com pesquisa,
planejamento e ações realmente efetivas, com objetivos e metas bem definidos, não
permanecendo na defesa de seus interesses particulares nem se eximindo desse
comprometimento por considerá-lo atribuição exclusiva do Estado.
No que concerne aos indivíduos,
tão ou mais importantes do que essas ações governamentais e de grupos devem
nossas atitudes, em todos os campos de atuação, refletir nosso caráter guiado
pela ética, pela responsabilidade e pelo comprometimento com a construção de
uma sociedade saudável, em que todos possam compartilhar os benefícios do
bem-estar, da paz e de um futuro mais feliz.
Somente com a renúncia ao
individualismo, a moderação do consumismo e da ambição, assimilando os
verdadeiros princípios que regem a vida, com um comportamento consciente e a iniciativa
solidária de participar e cooperar, teremos o mundo que tanto desejamos.
Luiz Teodoro –
setembro de 2012