quinta-feira, 16 de julho de 2015

Casamento e separação

O casamento – em todos os seus formatos de hoje, como união temporária ou estável –, tem aspectos interessantes sobre os quais é importante refletir.
         A primeira ideia, claro, é de união: estamos sempre buscando uma parceria especial para compartilhar a vida a dois, naquilo que não podemos dividir ou somar com nossos pais, irmãos, parentes ou amigos. Intimidades... certas intimidades.
         É claro também que não queremos perder as experiências positivas que já temos com as pessoas com quem convivemos: a atenção e os cuidados da mãe, a segurança e a proteção do pai, a conivência e a cumplicidade da irmã ou do irmão... outras intimidades, como o afeto, o carinho, o aconchego de um lar.
         E aí surge a outra ideia: a de separação. O casamento implica de imediato uma separação, um afrouxamento ou mesmo um rompimento de uma série de laços que já tínhamos, e que também outras pessoas usufruíam, mas que desejamos intensamente buscar e encontrar em outro lugar, em outra pessoa.
         Um estranho paradoxo, não?
         Não deveria ser, no entanto.
         O fato é que investimos quase tudo em um projeto de alto risco, e comprometemos o capital afetivo e emocional nosso e de quantos participavam de nosso círculo doméstico.
         Ou alguém poderia contestar essas perdas? Muitas até irrecuperáveis!
         Vale ressalvar logo que, nesta análise, não se trata de castrar o impulso natural que nós, com algumas poucas exceções, sentimos para a independência, a emancipação, a realização de um projeto próprio que nos perpetue – aquela clássica fórmula de plantar uma árvore, escrever um livro e ter uma prole... E que este plano, como qualquer outro empreendedorismo, pode nos levar ao desenvolvimento e ao bom-sucesso, tanto individual como coletivo. A questão é o modo pelo qual ocorre a iniciativa e se realiza o processo.
         É mister que a pessoa atinja um razoável grau de amadurecimento emocional, afetivo, para que esteja capacitada a estabelecer com responsabilidade um consórcio de vida compartilhada a dois.
         Sem essa condição, certamente irá aumentar o espantoso número das estatísticas relativas a separações e divórcios, com todos os tipos de implicação e prejuízo aos indivíduos, à família e à sociedade. Segundo o IBGE, de 2006 a 2011, o número de divórcios no Brasil cresceu 75% – sem contar as dissoluções de uniões não oficiais.
         Há diversos motivos que levam as pessoas a buscar e constituir uma parceria conjugal. Infelizmente, muitos deles não pressupõem o comprometimento e a responsabilidade, apenas a procura de satisfazer um ego carente e egoísta. Aquela velha concepção de extrativismo: procura-se no outro aquilo de que precisa para o preenchimento de suas carências e necessidades sem se preocupar com a justa contrapartida. Ou o fenômeno comum da projeção e transferência: a pessoa idealiza na outra atributos e qualidades que esta não possui, os quais depois, injustamente, vai cobrar dela e se decepcionar por não ser atendido.
         Os dotes estéticos, a química e o prazer são ingredientes importantes na hora de decidir pelo casamento, mas há outros ingredientes que são essenciais para a saúde e a manutenção de um bom relacionamento. Afinal, não somos apenas um organismo fisiológico complexo, somos dotados também e principalmente de sentimentos, inteligência, razão e sensibilidade. É bom pensar nisso.

Luiz Teodoro – 16 de julho de 2015

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