segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ainda sobre o assédio sexual


O novo assunto que há dias invadiu a mídia e as redes sociais, culminando com o vexame do IPEA admitindo seu erro na divulgação dos índices da pesquisa, ainda dá o que falar!
A despeito da pesquisa, como sempre feita por amostragem, ouvem-se desencontradas opiniões e das mais variadas fontes.
Isso é bom, à medida que leva à discussão um tema pertinente às relações sociais, com implicação em todas as esferas que englobam o comportamento e o processo de educação, seja familiar, na socialização ou na formalidade acadêmica.
O que causa estranheza, no entanto, é ouvir digressões de pessoas que ocupam posição de destaque no cenário da educação e de formadores de opinião, dos quais sempre se espera elevado grau de discernimento e equilíbrio.
De repente, o tema passou a ser tratado de modo isolado, como se fosse o único problema que afeta nossa sociedade, sem qualquer conexão com o estado geral de incipiência cultural e pobreza moral em que vivemos.
Talvez por causa do futebol e da religião ou da política, estabeleceram-se naturalmente dois lados, dois times, dois partidos: aquele que defende a liberdade sem limites da mulher e aquele que atribui a esse comportamento – de provocar o instinto de macho – a causa única dos assédios e da violação de direitos.
Todos têm razão e deixam de tê-la quando ultrapassam os limites do bom senso e da moderação.
O jogo da sedução sempre fez parte das relações entre os sexos, desde os remotos períodos pré-históricos, e tem acompanhado de certo modo as mudanças nos padrões éticos e morais ao longo do tempo. De modo especial, isso aconteceu proporcionalmente à conquista de liberdade das mulheres, aproximando-se da igualdade de direitos com os homens, vencendo os preconceitos e as opressões.
Entre os animais irracionais também existe o jogo da sedução, à obediência do instinto, tanto de um lado como do outro. A diferença significativa, nesse caso, é que esses animais não são dotados de inteligência, razão e sentimentos, como de emoção e afeto, respeito e amor.
A violação de direitos com o assédio, como me referia anteriormente, faz parte do estado de consciência e desenvolvimento ético-moral de nossa civilização, tendo raízes comuns com outros tipos de violência, explícitos ou não, no dia a dia de todos nós. As diversas formas de preconceito, crimes de toda espécie, corrupção generalizada, pedofilia na Igreja!?...
Hoje, não só não deixamos o carro destrancado, mas também instalamos alarme e contratamos seguro. Mesmo assim, quem já não teve o carro roubado? Em casa, além das grades, temos portão eletrônico, interfone, sensor de luz e ainda pagamos o vigia noturno. Em um restaurante, não podemos deixar bolsa, carteira ou celular afastados de nossas mãos. Não andamos na rua com maleta ou bolsa que denuncie a presença de laptop; corremos risco se sairmos com a camiseta do time, com uma mochila chamativa, iPhone, iPad, máquina fotográfica...
A explicação, a meu ver, não pode ser outra senão a da semelhança que mantemos com as outras classes do reino animal. Não nos distanciamos ainda bastante no processo evolutivo para termos o domínio das forças instintivas e a sublimação dessas energias para o amor, síntese de todas as virtudes, contemplação plena de todos os direitos e deveres.
Ao contrário, usamos os recursos da inteligência e do livre-arbítrio para melhor alimentar nosso orgulho e egoísmo já exacerbados! A busca insaciável do prazer fisiológico!...
Se, ao menos por instantes, deixássemos de ser hipócritas, nos perceberíamos mais irracionais do que inteligentes e sensatos.
Com que propósito a mulher subestima a boa aparência, a elegância, a delicadeza, a simpatia, a educação e se expõe com seminudez, roupas coladas, transparentes, posturas e insinuações provocantes? Por que o apelo de forma acintosa ao instinto de macho no homem em vez da conquista de um companheiro, que compartilhe a vida, que a respeite e a veja como mulher e não apenas como fêmea? Acaso a feminilidade natural perdeu seu poder de atração?
Por que o homem vê a mulher como uma presa, simples objeto de prazer, como se fosse um garanhão em meio a uma manada de fêmeas no cio, em vez de uma mulher sensível e inteligente, que é capaz de lhe dar carinho, afeto e amor?
E por que ambos expõem sua intimidade a público – nas baladas, nas ruas, nas redes sociais, nas músicas –, banalizando sentimentos e sensações que são os ingredientes fundamentais de uma relação de amor?
Pensemos nisso. Sem puritanismo, sem preconceito, mas com honestidade, sinceridade e respeito próprio.

terça-feira, 18 de março de 2014

Até quando os super-heróis?...


Outro dia, estava eu no trânsito caótico da manhã, procurando colocar em ordem meus pensamentos, quando observei no carro da frente uma série de adesivos em seu vidro traseiro, e entre eles havia dois que me chamaram particularmente a atenção:
Nas mãos de Deus” e “Propriedade de Jesus”.
Sem dúvida de que o dono do carro declarava publicamente sua fé, que até poderia ser incondicional, mas, convenhamos, ele e tantos outros fanáticos por adesivos e proselitismo de sua crença demonstram também uma fé ainda carente de racionalidade.
Na Antiguidade, o povo judeu esperava o Messias, anunciado pelos profetas como o libertador, o salvador, que foi aguardado com ansiedade por séculos e séculos como um super-herói. Sim, desses que vêm, com todos os seus superpoderes, e resolvem rapidinho todos os nossos problemas. Assim, simples, sem qualquer participação nossa, a não ser como meros expectadores. Muitos judeus ainda continuam esperando por ele.
E hoje também nós, cristãos e não cristãos, entre os arquétipos e tudo que herdamos dos judeus, alimentamos esse hábito obsessivo de sempre depositar nossas esperanças em um novo super-herói. Se um não funciona, criamos outro e outro, sucessivamente. Mesmo quando eles vêm, não os reconhecemos e não os aprovamos, porque não nos atendem do jeito que desejamos.
Em pleno século 21, nada parece ter mudado para as grandes massas religiosas. Queremos avatares na política, na economia, na sociedade. Queremos que Jesus esteja a nosso serviço, que nos arrume emprego, que pague nossas contas e conserte nossos erros, que nos torne ricos... até mesmo que seja o seguro de nosso carro.
E qual nossa contrapartida? Apenas fé. E ainda assim com a condição de que tudo realmente esteja bem, tranquilo e confortável!...

Até quando permaneceremos nessa inconsciência, na ignorância do propósito de Deus em relação a nossa vida e nosso destino?
É tão difícil entender que, atendendo a nosso sentimentalismo e caprichos infantis, Deus estaria revogando suas próprias leis?
Acaso pretendemos que Jesus e os Espíritos celestiais contrariem as leis divinas nos fazendo concessões, em conformidade com a intensidade de nossas emoções e rogos de crianças mimadas ou nossa fé chantagista?
As leis divinas, imutáveis e eternas, absolutas e justas, cujo objetivo é de nos guiar na execução do plano do Criador – de nos tornarmos perfeitos e felizes – jamais dispensariam o trabalho, o esforço, a responsabilidade, o mérito, a recapitulação e o progresso.
Meu carro é uma propriedade minha – por concessão divina, é verdade – pela qual sou responsável, desde sua manutenção até as mínimas consequências resultantes de seu uso. Só a partir daí, poderei então contar com a proteção divina, seja direta ou indireta.
O emprego deve ser uma conquista minha, com meu esforço, que começou lá na infância, com a dedicação aos estudos, com a humildade e a observância das orientações que recebi ao longo de toda a minha vida. Com o merecimento e por misericórdia, sim, poderei contar com o auxílio de Deus e seus prepostos.
E assim por diante. Sempre de acordo com a equação composta por trabalho, mérito e conquista. Justiça e Amor.
Deus é bom, mas é justo.
“Ajuda-te e Deus te ajudará.” Sem privilégios, sem chantagens, sem milagres, sem super-heróis.
Pensemos nisso.