O novo assunto que há dias
invadiu a mídia e as redes sociais, culminando com o vexame do IPEA admitindo
seu erro na divulgação dos índices da pesquisa, ainda dá o que falar!
A despeito da pesquisa, como
sempre feita por amostragem, ouvem-se desencontradas opiniões e das mais
variadas fontes.
Isso é bom, à medida que leva
à discussão um tema pertinente às relações sociais, com implicação em todas as
esferas que englobam o comportamento e o processo de educação, seja familiar, na
socialização ou na formalidade acadêmica.
O que causa estranheza, no
entanto, é ouvir digressões de pessoas que ocupam posição de destaque no
cenário da educação e de formadores de opinião, dos quais sempre se espera
elevado grau de discernimento e equilíbrio.
De repente, o tema passou a
ser tratado de modo isolado, como se fosse o único problema que afeta nossa
sociedade, sem qualquer conexão com o estado geral de incipiência cultural e pobreza
moral em que vivemos.
Talvez por causa do futebol e
da religião ou da política, estabeleceram-se naturalmente dois lados, dois
times, dois partidos: aquele que defende a liberdade sem limites da mulher e
aquele que atribui a esse comportamento – de provocar o instinto de macho – a
causa única dos assédios e da violação de direitos.
Todos têm razão e deixam de tê-la
quando ultrapassam os limites do bom senso e da moderação.
O jogo da sedução sempre fez
parte das relações entre os sexos, desde os remotos períodos pré-históricos, e tem
acompanhado de certo modo as mudanças nos padrões éticos e morais ao longo do
tempo. De modo especial, isso aconteceu proporcionalmente à conquista de
liberdade das mulheres, aproximando-se da igualdade de direitos com os homens,
vencendo os preconceitos e as opressões.
Entre os animais irracionais também existe o jogo da
sedução, à obediência do instinto, tanto de um lado como do outro. A diferença
significativa, nesse caso, é que esses animais não são dotados de inteligência,
razão e sentimentos, como de emoção e afeto, respeito e amor.
A violação de direitos com o
assédio, como me referia anteriormente, faz parte do estado de consciência e
desenvolvimento ético-moral de nossa civilização, tendo raízes comuns com
outros tipos de violência, explícitos ou não, no dia a dia de todos nós. As
diversas formas de preconceito, crimes de toda espécie, corrupção generalizada,
pedofilia na Igreja!?...
Hoje, não só não deixamos o
carro destrancado, mas também instalamos alarme e contratamos seguro. Mesmo
assim, quem já não teve o carro roubado? Em casa, além das grades, temos portão
eletrônico, interfone, sensor de luz e ainda pagamos o vigia noturno. Em um
restaurante, não podemos deixar bolsa, carteira ou celular afastados de nossas
mãos. Não andamos na rua com maleta ou bolsa que denuncie a presença de laptop;
corremos risco se sairmos com a camiseta do time, com uma mochila chamativa,
iPhone, iPad, máquina fotográfica...
A explicação, a meu ver, não
pode ser outra senão a da semelhança que mantemos com as outras classes do
reino animal. Não nos distanciamos ainda bastante no processo evolutivo para
termos o domínio das forças instintivas e a sublimação dessas energias para o
amor, síntese de todas as virtudes, contemplação plena de todos os direitos e
deveres.
Ao contrário, usamos os
recursos da inteligência e do livre-arbítrio para melhor alimentar nosso
orgulho e egoísmo já exacerbados! A busca insaciável do prazer fisiológico!...
Se, ao menos por instantes,
deixássemos de ser hipócritas, nos perceberíamos mais irracionais do que
inteligentes e sensatos.
Com que propósito a mulher subestima
a boa aparência, a elegância, a delicadeza, a simpatia, a educação e se expõe
com seminudez, roupas coladas, transparentes, posturas e insinuações
provocantes? Por que o apelo de forma acintosa ao instinto de macho no homem em
vez da conquista de um companheiro, que compartilhe a vida, que a respeite e a
veja como mulher e não apenas como fêmea? Acaso a feminilidade natural perdeu
seu poder de atração?
Por que o homem vê a mulher como
uma presa, simples objeto de prazer, como se fosse um garanhão em meio a uma
manada de fêmeas no cio, em vez de uma mulher sensível e inteligente, que é
capaz de lhe dar carinho, afeto e amor?
E por que ambos expõem sua
intimidade a público – nas baladas, nas ruas, nas redes sociais, nas músicas –,
banalizando sentimentos e sensações que são os ingredientes fundamentais de uma
relação de amor?
Pensemos nisso. Sem
puritanismo, sem preconceito, mas com honestidade, sinceridade e respeito
próprio.
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