Outro dia, estava eu no trânsito caótico da manhã, procurando colocar em
ordem meus pensamentos, quando observei no carro da frente uma série de
adesivos em seu vidro traseiro, e entre eles havia dois que me chamaram particularmente
a atenção:
“Nas mãos de Deus” e “Propriedade de Jesus”.
Sem dúvida de que o dono do carro declarava publicamente sua fé, que até
poderia ser incondicional, mas, convenhamos, ele e tantos outros fanáticos por
adesivos e proselitismo de sua crença demonstram também uma fé ainda carente de
racionalidade.
Na Antiguidade, o povo judeu esperava o Messias, anunciado pelos
profetas como o libertador, o salvador, que foi aguardado com ansiedade por
séculos e séculos como um super-herói. Sim, desses que vêm, com todos os seus
superpoderes, e resolvem rapidinho todos os nossos problemas. Assim, simples,
sem qualquer participação nossa, a não ser como meros expectadores. Muitos
judeus ainda continuam esperando por ele.
E hoje também nós, cristãos e não cristãos, entre os arquétipos e tudo
que herdamos dos judeus, alimentamos esse hábito obsessivo de sempre depositar
nossas esperanças em um novo super-herói. Se um não funciona, criamos outro e
outro, sucessivamente. Mesmo quando eles vêm, não os reconhecemos e não os
aprovamos, porque não nos atendem do jeito que desejamos.
Em pleno século 21, nada parece ter mudado para as grandes massas
religiosas. Queremos avatares na política, na economia, na sociedade. Queremos
que Jesus esteja a nosso serviço, que nos arrume emprego, que pague nossas
contas e conserte nossos erros, que nos torne ricos... até mesmo que seja o
seguro de nosso carro.
E qual nossa contrapartida? Apenas fé. E ainda assim com a condição de
que tudo realmente esteja bem, tranquilo e confortável!...
Até quando permaneceremos nessa inconsciência, na ignorância do
propósito de Deus em relação a nossa vida e nosso destino?
É tão difícil entender que, atendendo a nosso sentimentalismo e caprichos
infantis, Deus estaria revogando suas próprias leis?
Acaso pretendemos que Jesus e os Espíritos celestiais contrariem as leis
divinas nos fazendo concessões, em conformidade com a intensidade de nossas emoções
e rogos de crianças mimadas ou nossa fé chantagista?
As leis divinas, imutáveis e eternas, absolutas e justas, cujo objetivo
é de nos guiar na execução do plano do Criador – de nos tornarmos perfeitos e
felizes – jamais dispensariam o trabalho, o esforço, a responsabilidade, o
mérito, a recapitulação e o progresso.
Meu carro é uma propriedade minha – por concessão divina, é verdade –
pela qual sou responsável, desde sua manutenção até as mínimas consequências
resultantes de seu uso. Só a partir daí, poderei então contar com a proteção
divina, seja direta ou indireta.
O emprego deve ser uma conquista minha, com meu esforço, que começou lá
na infância, com a dedicação aos estudos, com a humildade e a observância das
orientações que recebi ao longo de toda a minha vida. Com o merecimento e por misericórdia,
sim, poderei contar com o auxílio de Deus e seus prepostos.
E assim por diante. Sempre de acordo com a equação composta por
trabalho, mérito e conquista. Justiça e Amor.
Deus é bom, mas é justo.
“Ajuda-te e Deus te ajudará.” Sem privilégios, sem chantagens, sem
milagres, sem super-heróis.
Pensemos nisso.
Olá Luiz!!! Tenho uma questão filosófica a fazer. Quando dizemos "Deus é justo", não seria pressupor a possibilidade de que Ele fosse injusto e por isso assim o qualificamos? Nas minhas divagações acho que não cabe qualidades a Deus, pq quando o qualifico, abro a possibilidade de que fosse o contrário, o que também não cabe. Acha que é muita loucura? rssss bjsss
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