sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Alimentando as ideias



Todos nós vivemos hoje numa atmosfera de ansiedade, insegurança e dúvidas, tanto em nosso foro íntimo – quando refletimos sobre nossas limitações, quando sentimos frustração por não conseguirmos realizar nossos desejos e quando nos percebemos incapazes de mudar as circunstâncias – quanto na convivência nos grupos sociais a que pertencemos, quando somos incompreendidos ou não são atendidas nossas expectativas.

No entanto, pouco fazemos para que essa sensação mude a nosso favor. Seja por falta de vontade e iniciativa, seja por medo, nos acomodamos a essa situação e construímos uma rotina de sobrevivência em que suportamos a insatisfação e procuramos compensá-la com alguma forma de prazer, na maioria das vezes apenas dos sentidos: comida, entretenimento, sexo...
Falta-nos, portanto, reagir de alguma forma e decidirmos mudar essa condição, buscando alternativas para uma vida melhor.

Como reflexão, proponho primeiramente fazermos uma análise de nosso modo de viver e procurar diagnosticar nossa insatisfação.
Aliás, podemos começar por entender o significado de “satisfação”. “Satis” vem do latim e quer dizer “bastante”, “suficiente”; e “fação” vem de “fazer”. Então, satisfação é “fazer o bastante, o suficiente”, SACIAR-SE, completar-se.
Nós todos temos a ansiedade por se satisfazer, por se completar. É o instinto pela perfeição em nós! Estamos constantemente nessa busca, pela posse de coisas, nos relacionamentos com as pessoas, na curiosidade por descobertas, nas aventuras.

O caminho para nossa análise mais indicado, tanto pela psicanálise como pela filosofia, social e espiritualista, é voltar-se para o autoconhecimento: precisamos descobrir quem somos e o que estamos fazendo aqui.
Quando viemos a este mundo, não trouxemos nada de material além de nosso corpo, nu, e tão-somente uma bagagem* associada a nossa inteligência – algum conhecimento, instinto, intuição –, que vamos abrindo e de cujo conteúdo vamos fazendo uso ao longo de nossa existência.
Mais do que um símbolo, devemos entender essa condição de modo racional: aqui na Terra encontramos à disposição tudo de que precisamos para, com o emprego dos recursos intelectuais que nos são natos, realizar nosso projeto de vida, atingir os objetivos para os quais nascemos.
Um fato importante do qual devemos nos lembrar sempre é que, ao nascermos, entramos num mundo que já existe, com toda a sua complexidade, seus problemas e seus progressos, seus padrões e níveis éticos, morais, culturais, enfim, seu estágio atual de desenvolvimento. Portanto, o mundo não vai se adaptar a nós; nós é que temos que nos adaptar a ele!
Alegoricamente, é como se entrássemos numa estação e embarcássemos num trem que vem de muito longe e que vai para um destino também muito distante. Aparentemente, não conhecemos seus passageiros nem o percurso de sua viagem até nossa estação. Durante um determinado período em que estaremos juntos nessa aventura, vamos descobrir muitas coisas, estabelecer relacionamentos, interagir, fazer escolhas, definir planos e metas, aprender, criar e realizar. Depois, desceremos em outra estação mais à frente. E o trem seguirá seu destino, recebendo e desembarcando viajantes, durante todo o tempo e ao longo de toda a sua trajetória. 
Desse modo, com que justificativa vamos julgar e rejeitar esse cenário cheio de vícios, violência e corrupção que encontramos e que nos assusta? Afinal, “pegamos o bonde andando...”! Numa visão naturalista, não fizemos parte de sua construção, de sua história...
A primeira conclusão, então, a meu ver, é de aceitação. Restam-nos, depois, algumas poucas alternativas: ou nos resignamos, nos conformamos ou, então, nos disponhos a contribuir com nossos recursos para melhorar este nosso mundo, enquanto nele estivermos!
Por outro lado, precisamos mudar nosso ponto de vista, ampliar nosso foco e olhar, sem preconceitos, para a realidade a nosso redor: não é tão triste e desalentadora como parece. Há muita coisa acontecendo de positivo, que denota desenvolvimento em todos os setores, aperfeiçoamento de instituições, conscientização e combate à corrupção e à imoralidade, pesquisas e inovações na tecnologia, nas ciências, na busca constante pela qualidade de vida.
Com a globalização, o totalitarismo dos regimes políticos e o extremismo das instituições religiosas estão sendo expostos e combatidos – já estão ruindo e, a menos que mudem, estarão fadados a logo desaparecer, cedendo lugar para sistemas mais coerentes com a liberdade, a justiça e a igualdade. Hoje são criados mecanismos de defesa individuais e de grupos, como a criação dos Direitos Humanos, os códigos em defesa da mulher, da criança, promovem-se fóruns e congressos em todo o mundo para discussão de assuntos de interesse de toda a humanidade...
Claro que falta muito, mas quanto tempo a Humanidade levou para chegar ao ponto em que estamos? Basta compararmos nossa situação hoje com a Pré-História, com a Antiguidade, com a Idade Média e vemos um relativo, mas enorme progresso.

Uma vez que passamos a fazer parte deste planeta, assumimos a responsabilidade pelo que acontece com ele, nas esferas de nossa atuação: família, comunidade, cidade, Estado, País...
Sabemos que a transformação individual influencia a coletividade, mental, social e moralmente. Respiramos numa atmosfera de energias, fluidos, os quais compartilhamos e com eles interagimos. Somos a todo momento influenciados por essas emissões de pensamento e sentimento e influenciamos também com nossas vibrações psíquicas. Mudando nosso modo de pensar e agir, sintonizando o individual e o coletivo, estaremos cooperando para um mundo melhor.
Lidamos com valores, conceitos, crenças, as mais diversas, de conformidade com o histórico de aprendizado, experiência e cultura de cada pessoa. Como decorrência, nos confrontamos com disparidades nos modos de compreender e assimilar fatos, ideias e conceitos, dando origem a diferentes níveis de consciência.
As mentes mais esclarecidas – porque pensam, pesquisam, estudam – sentem-se indignadas, constrangidas com nossa paisagem social e suas perspectivas, sendo-lhes exigidas altas doses de tolerância, paciência e compreensão.
As mentes indiferentes ou acomodadas, por sua vez, em geral vivem a reclamar direitos, e atribuem aos outros, aos sistemas, ao governo toda a sua insatisfação e sofrimento. Elegem ídolos, em todos os campos, para os quais transferem os atributos que não encontram em si mesmas. Quando são tocadas por conceitos religiosos ou políticos, depositam suas esperanças em um salvador, um novo messias, ou um super-herói.
E nós, a que grupos pertencemos?
Temos que definir nosso papel nesse contexto. E vivê-lo. Cada um com sua capacidade, seus recursos, seu talento. Lembremo-nos do que disse Madre Teresa de Calcutá: “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.”
As grandes transformações ficam para as mentes brilhantes que de tempos em tempos aparecem entre nós, impulsionando o desenvolvimento coletivo: Hamurabi, Moisés, Lao Tsé Tung, Confúcio, Sócrates, Buda, Jesus, Eistein, Ghandi e tantos outros, antigos e recentes.
A Humanidade vive ainda em sua infância. Até sua maturidade há um longo caminho para ser percorrido.
A verdadeira democracia, a liberdade, a justiça não são sonhos, são metas que um dia seguramente vamos alcançar. “Liberté, Egalité, Fraternité”, “Ordem e Progresso” e tantos outros ideais são pontos na linha do tempo que já vislumbramos nos patamares mais altos de nossa ascensão...
Confio no Grande Arquiteto, imaginado por Eistein, e em seus Engenheiros que executam
a grande obra do Universo.
Da Gênese ao Apocalipse estamos vivendo um longo capítulo. Depois a História continua... Bem, mas é cedo para pensarmos a respeito!

*Essa bagagem, para mim e para cerca de 4 bilhões de pessoas no planeta, são aquisições de vidas anteriores. Acreditamos que, sim, subimos e descemos em várias estações na grande viagem e participamos de toda a História. Nas sucessivas incursões neste globo, construímos impérios e os destruímos. Deixamos testamentos de riquezas e de misérias que nós mesmos herdamos. 
É tempo de despertarmos e nos conscientizarmos de que nós é que construímos o mundo que queremos. Cabe a nós educar nossas mentes e legar às próximas gerações os fundamentos de um mundo melhor, no qual, indubitavelmente, voltaremos a habitar em breve.

            Luiz Teodoro – agosto de 2012.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

No religion!

O que passava na mente de John Lennon no momento em que imaginou o mundo sem religião?
Inteligente e bem-informado que era, não deve ter sido uma ideia infundada, inconsequente.
Seria a indignação ante o cenário religioso em que vivemos, em que não se atém apenas à arena ideológica, mas sob o nome de Deus se lança mão das armas, chegando até o genocídio? A confusão em que se envolvem conceitos e valores como espírito e matéria (princípio inteligente ativo e princípio material passivo), céu, inferno e tantos outros?
Seria a impressão em seu espírito sensível ao deparar-se na História com as “Guerras Santas”,
o “Batismo de Fogo”, a “Noite de São Bartolomeu”, ou Khomeini, Irlanda, Jim Jones?...
Talvez a ignorância manipulada, a fé cega que conduz incautos à fantasia ou ao desespero?
Poderia ser o resultado frustrante da busca de respostas a incessantes indagações do homem acerca de si, de sua origem, de seu destino, dos meios para a solução de suas dificuldades, do sonho da perfeição, da felicidade?

Ideias e crenças em Deus antropomórfico, teorias como panteísmo, metempsicose, maniqueísmo certamente desnorteiam quem não se dedique a aprofundar a pesquisa e o estudo sobre o sentido da vida. Como compreender e aceitar paradoxos como Deus irascível e vingativo, infinitamente bom e justo! Como admitir, ao fim de vidas sucessivas de dor e aflição, de renúncia e conquistas, progresso e evolução, a perda da individualidade ao mergulhar no Todo absoluto!
Fanatismo, proselitismo, mercantilismo e outras tantas formas em que se deturpa e se explora
o sentimento religioso sem dúvida incomodam quem tenha a inteligência desenvolvida ou que busque uma explicação racional ao sentimento inato de Deus.

Convivi muito tempo buscando entender a frase de John. Hoje, confesso desconhecer ainda suas razões exatas, mas admito que concordo com ele. E não só imagino, mas creio que um dia assim será. Imagine... QUANDO não houver religião. Imagine quando não precisarmos mais da religião como instituição.
A vida, como ela está, orienta-se pela dicotomia: a política, a organização social, a religião,
a economia, até a ética, coexistem como se fossem independentes, tantas vezes disputando espaço, poder e influência.
Por outro lado, imagine se tivéssemos para a sociedade, em seu sentido amplo, os mesmos princípios, ou seja, princípios únicos nos quais se fundamentassem todas as suas ações, todos esses campos convergindo para um só objetivo. Imagine que esse objetivo fosse levar o homem a se desenvolver intelectualmente, socialmente, economicamente, moral e espiritualmente; investir constantemente para o progresso da ciência em todos os campos; conscientizar e zelar pela preservação do ambiente e da vida. Sem mais conceitos e preconceitos, sem manipulação de qualquer forma de poder, força, domínio. Sem divisões de raça, crença, castas, ideologias. Todos e cada um aplicando os recursos de inteligência e talento para o progresso de si e dos que lhe estão próximos, da sociedade. Imagine os “poderes” se sucedendo na cooperação, no acréscimo, na continuidade. Imagine...!
Ao fim de algum tempo, não teríamos partidos políticos antagônicos, facções religiosas em disputa, crenças diversas; regimes, processos, sistemas disputando a hegemonia; personalidades reivindicando reconhecimento ao orgulho e à vaidade. Transformaríamos a segregação em agregação. Teríamos um só partido, uma só religião, uma só sociedade, em que todos trabalhariam para a conquista das metas e dos objetivos comuns. E, quando falássemos em política, subentenderíamos, implícitos, os mesmos princípios, o mesmo objetivo. No Congresso, não se elaborariam leis que não atendessem a esses princípios e não contemplassem indistintamente todas as pessoas, em todas as suas necessidades de evolução. As organizações sociais não teriam qualquer forma de discriminação. Os movimentos voltados mais especificamente para o espírito teriam em seus projetos, naturalmente, as ações sociais e o engajamento político... 
Continuaríamos a ter, claro, a diversidade na cultura, nas ideias, nos talentos, nas capacidades e nas conquistas individuais, mas teríamos, ao mesmo tempo, toda essa diversidade convergindo para a fraternidade, a paz, a felicidade.
It isn't hard to do!

Fazer o bem faz bem!


Os órgãos que regulamentam e tratam da assistência/responsabilidade social adotaram uma nova nomenclatura para traduzir os conceitos e as ações relativos ao setor. Assim, hoje não se usa mais “instituição de caridade” ou “entidade beneficente”, mas simplesmente “organização social”; o termo “carente” virou “vulnerável”; “caridade”, “assistência” agora são “integração social” ou “inclusão social”.

No entanto, costumamos nos esquecer do que significa “social”, a “sociedade”.
E mesmo os tecnólogos sociais parece se preocuparem mais com a terminologia e seu impacto nas consciências do que com ações pragmáticas e efetivas para a transformação
do ambiente social, dotando-o dos recursos necessários, e da relação digna entre todos
os semelhantes (liberdade, igualdade, fraternidade).

Mas, recordemos, o que é a sociedade mesmo?
Será a minoria da elite privilegiada e da classe média alta? E os outros, em maioria, são todos os “excluídos” que deveriam entrar para essas classes?!
Segundo os dicionários, sociedade é o conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e espaço ou é o agrupamento de pessoas que vivem em estado gregário.
Ou seja, todos nós juntos somos a sociedade, na qual a maioria não tem acesso à riqueza, aos bens materiais e culturais. E somos forçados a admitir, portanto, que essa é a característica predominante de nossa sociedade e que aqueles constituem um pequeno grupo dentro dela.

Não é, pois, um contrassenso querermos “incluir” a maioria na minoria? (Sem contar que não haveria recursos suficientes para tornar esses iguais àqueles!)
Então, quem na verdade são os marginalizados? Quem são os “excluídos” ou que “se excluem”, quer conscientemente, quer voluntariamente ou não?
Creio que nós é que devemos nos “incluir” socialmente. Aplicar todos os recursos que detemos, nossa inteligência, nossa criatividade, nossa colaboração, nossa participação na sociedade da qual fazemos parte.
Se nos julgamos felizes com o que temos e como somos, devemos tornar o outro mais feliz.

Sou pai, você é pai ou mãe. Milhões são pais e mães.
Acaso meu filho tem mais direito à proteção, aos cuidados de saúde, educação, conforto e bem-estar do que o seu, o dele, o do outro?
Agora imagine se eu considerasse sua criança, qualquer criança, todas as crianças como
meus filhos!

Tenho todo o respeito por meu pai, como você tem pelo seu, como o outro tem pelo dele...
Agora imagine se eu tratasse seu pai, qualquer pessoa idosa como meu pai!
E assim também com relação a seu irmão ou irmã, o irmão do outro, do outro, de todos...

Você pode dizer que sou um sonhador... mas posso não ser o único, pois esse é um sonho que podemos sonhar juntos.
Fazer o bem nos dá prazer. Que tal estender esse prazer além do âmbito familiar e de nossas amizades? Que tal experimentar esse prazer?
Fazer o bem faz bem. Fazer o outro feliz deixa a gente mais feliz.

A Semente e o Anjo


Assim como a semente traz latentes em sua intimidade os elementos que
a transformarão em árvore, o homem também carrega em si o anjo em que vai
se tornar um dia, depois de percorrer o longo caminho de sua evolução.

A semente dormita quando naturalmente isolada na Natureza ou propositalmente separada de seu habitat. Basta, no entanto, que seja exposta a condições propícias, que lhe permitam seguir o destino que as leis da vida lhe estabeleceram, o processo de seu desenvolvimento é desencadeado e as sucessivas transformações acontecem. A terra, a umidade, a luz do Sol e tantos outros agentes colaboram sinérgica e harmoniosamente para a execução de seu projeto de existência.

A despeito dos admiráveis avanços de nosso conhecimento, muito distantes estamos ainda de desvendar os segredos (não mistérios) que envolvem uma simples planta. Com o homem, então...

Mas, apenas com o intuito de provocar a reflexão sobre nós mesmos, creio
que vale a alegoria.

Para seu desenvolvimento, o homem tem o universo como seu espaço e
a eternidade como seu tempo. (Portanto, não temos motivos para o stress,
nem razão para a ambição de ter, pois, assim como no caso da semente,
nosso projeto é ser!)

Vamos construindo, ou melhor, vamos executando nosso projeto de vida,
passo a passo, na direção de nosso destino final, a perfeição = a felicidade.
Depende de cada um de nós o tamanho desse passo.
Traçamos rotas, somamos experiências, buscamos o entendimento, interagimos.

Diferentemente da planta, temos inúmeros outros elementos a nosso dispor.
Além da consciência, que traz impressas as leis naturais e suas diretrizes, temos
a inteligência, a razão, os sentimentos e, acima de tudo, a liberdade de escolha!
Externamente, as fontes de informação: a Ciência, a Filosofia, a Religião,
a Sociologia, a Psicologia; as fontes de inspiração: a música, a pintura, a poesia;
as fontes de prazer...

Imprescindível, entretanto, nossa relação com os outros humanos.
Não se pode conceber a felicidade vivendo só.
Não se pode conceber o amor com a exclusão do outro,
qualquer que seja sua condição e estágio de evolução.
É por meio da relação social – na família, na comunidade,
na sociedade – que realizamos nosso crescimento,
ampliamos nosso entendimento e aperfeiçoamento.

Somos naturalmente voltados ao bem.
Trazemos os sentimentos de bondade, solidariedade, amor dentro de nós.
Apenas não os manifestamos. Alguns por desconhecê-los ainda,
outros porque se retraem, os escondem por orgulho ou por medo de se expor;
outros porque vivem esperando a oportunidade.
Mas toda vez que os experimentamos sentimos um indizível prazer,
traduzido em satisfação, bem-estar e paz.