O que passava na mente de John Lennon no momento em que imaginou o mundo sem religião?
Inteligente e bem-informado que era, não deve ter sido uma ideia infundada, inconsequente.
Seria a indignação ante o cenário religioso em que vivemos, em que não se atém apenas à arena ideológica, mas sob o nome de Deus se lança mão das armas, chegando até o genocídio? A confusão em que se envolvem conceitos e valores como espírito e matéria (princípio inteligente ativo e princípio material passivo), céu, inferno e tantos outros?
Seria a impressão em seu espírito sensível ao deparar-se na História com as “Guerras Santas”,
o “Batismo de Fogo”, a “Noite de São Bartolomeu”, ou Khomeini, Irlanda, Jim Jones?...
Talvez a ignorância manipulada, a fé cega que conduz incautos à fantasia ou ao desespero?
Poderia ser o resultado frustrante da busca de respostas a incessantes indagações do homem acerca de si, de sua origem, de seu destino, dos meios para a solução de suas dificuldades, do sonho da perfeição, da felicidade?
Ideias e crenças em Deus antropomórfico, teorias como panteísmo, metempsicose, maniqueísmo certamente desnorteiam quem não se dedique a aprofundar a pesquisa e o estudo sobre o sentido da vida. Como compreender e aceitar paradoxos como Deus irascível e vingativo, infinitamente bom e justo! Como admitir, ao fim de vidas sucessivas de dor e aflição, de renúncia e conquistas, progresso e evolução, a perda da individualidade ao mergulhar no Todo absoluto!
Fanatismo, proselitismo, mercantilismo e outras tantas formas em que se deturpa e se explora
o sentimento religioso sem dúvida incomodam quem tenha a inteligência desenvolvida ou que busque uma explicação racional ao sentimento inato de Deus.
Convivi muito tempo buscando entender a frase de John. Hoje, confesso desconhecer ainda suas razões exatas, mas admito que concordo com ele. E não só imagino, mas creio que um dia assim será. Imagine... QUANDO não houver religião. Imagine quando não precisarmos mais da religião como instituição.
A vida, como ela está, orienta-se pela dicotomia: a política, a organização social, a religião,
a economia, até a ética, coexistem como se fossem independentes, tantas vezes disputando espaço, poder e influência.
Por outro lado, imagine se tivéssemos para a sociedade, em seu sentido amplo, os mesmos princípios, ou seja, princípios únicos nos quais se fundamentassem todas as suas ações, todos esses campos convergindo para um só objetivo. Imagine que esse objetivo fosse levar o homem a se desenvolver intelectualmente, socialmente, economicamente, moral e espiritualmente; investir constantemente para o progresso da ciência em todos os campos; conscientizar e zelar pela preservação do ambiente e da vida. Sem mais conceitos e preconceitos, sem manipulação de qualquer forma de poder, força, domínio. Sem divisões de raça, crença, castas, ideologias. Todos e cada um aplicando os recursos de inteligência e talento para o progresso de si e dos que lhe estão próximos, da sociedade. Imagine os “poderes” se sucedendo na cooperação, no acréscimo, na continuidade. Imagine...!
Ao fim de algum tempo, não teríamos partidos políticos antagônicos, facções religiosas em disputa, crenças diversas; regimes, processos, sistemas disputando a hegemonia; personalidades reivindicando reconhecimento ao orgulho e à vaidade. Transformaríamos a segregação em agregação. Teríamos um só partido, uma só religião, uma só sociedade, em que todos trabalhariam para a conquista das metas e dos objetivos comuns. E, quando falássemos em política, subentenderíamos, implícitos, os mesmos princípios, o mesmo objetivo. No Congresso, não se elaborariam leis que não atendessem a esses princípios e não contemplassem indistintamente todas as pessoas, em todas as suas necessidades de evolução. As organizações sociais não teriam qualquer forma de discriminação. Os movimentos voltados mais especificamente para o espírito teriam em seus projetos, naturalmente, as ações sociais e o engajamento político...
Continuaríamos a ter, claro, a diversidade na cultura, nas ideias, nos talentos, nas capacidades e nas conquistas individuais, mas teríamos, ao mesmo tempo, toda essa diversidade convergindo para a fraternidade, a paz, a felicidade.
It isn't hard to do!
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