Relendo A Cabana, de William Paul Young, voltaram
a minha mente antigas reflexões e assomaram outras novas, confirmando o fato de
que ler é essencial a nossa vida, não apenas como terapia, mais ainda como fonte
de informações e esclarecimento, nos permitindo ultrapassar nossos limites e
ampliar nossos horizontes, e contribuindo para o rompimento de preconceitos
cristalizados ao longo de nossa história.
Crer em Deus, como o Criador, a causa primária de todas as
coisas, a fonte de todo o amor e sabedoria, implica acreditar também em uma
série de princípios, fundamentos sem os quais não se pode compreender e
sustentar essa fé.
Sob
esse ponto de vista, é inconcebível pensar que a Criação não seja um projeto divino – portanto, absolutamente
perfeito, infalível – abrangendo todas as criaturas, com um objetivo
predeterminado e com todos os recursos necessários para sua realização. A
simples contemplação da natureza, a investigação e o estudo das ciências, incluindo
a filosofia, a psicologia e a religião, e tantos outros recursos da
inteligência, além da fé, nos levam a crer que o homem constitui, pois, apenas uma
parte, ou um estágio, desse projeto.
“Sede perfeitos como vosso pai é perfeito.” –
Jesus (Mateus, 5: 48)
Por diversas vezes, Jesus se referiu a nosso destino como
sendo a perfeição, a felicidade, a bem-aventurança, a liberdade. Em última
análise, todos esses conceitos têm o mesmo significado, pois nenhum exclui o
outro; ao contrário, seremos felizes na proporção em que nos aperfeiçoarmos,
nos tornarmos livres, sentindo-nos bem-aventurados.
Compreender o Plano Divino para sua Criação e os meios pelos
quais realizá-lo constitui, naturalmente, nossa principal preocupação, e a
razão de existirem milhares de religiões em nosso planeta, cada qual com suas
particularidades teológicas e filosóficas, estabelecendo conceitos e regras,
criando pastores e disputando rebanhos.
O projeto divino, no entanto, é singular e traz intrínsecas as
leis universais, perfeitas e imutáveis. Por isso, essas leis estão acima de
quaisquer interpretações, ideologias e conceituações de qualquer natureza,
cabendo a nós conhecê-las e segui-las, por mais tempo que isso demande,
individual e coletivamente.
A Química, a Física, a Biologia, a Astronomia, é certo, muito
contribuem para desvendar os segredos da Natureza e, assim, acabam por também revelar
a obra do Criador. Outros ramos da Ciência, como a Filosofia, a Sociologia e a
Psicologia vão além, estudando a mente, o psiquismo e o comportamento. As
religiões têm um papel importante enquanto buscarem os meios de direcionar o
homem para a vida em sintonia com as leis divinas, mas lamentavelmente se
equivocam quando se julgam detentoras da verdade ou se desviam de seus
objetivos morais e espirituais e se corrompem pelos interesses materiais. “Fora
da Igreja não há salvação” , “Fora da Bíblia não há salvação” são lemas que há
muito não mais correspondem aos níveis de consciência já alcançados e
propagados ao longo da história de nossa Humanidade.
A globalização chegou em tempo para revolucionar o pensamento
e generalizar o conhecimento. Ao provocar o contato com as diferentes culturas,
especialmente nos aspectos filosóficos e religiosos, promove ajustes e avanços
no grau de compreensão da vida e no processo de nossa evolução moral e espiritual.
Esse fenômeno, da globalização, não se deve ao acaso, e sim constitui
um dos exemplos de ação superior que supervisiona a execução do Plano Divino.
Um olhar atento a nossa história nos leva a perceber a presença estratégica, ao
longo do tempo e do espaço geográfico, de personagens iluminados, tidos como
avatares, desde a Antiguidade, que vêm impulsionar o desenvolvimento da
Humanidade em todos os aspectos: intelectual, social e moral. Como exemplos,
temos Krishna (Índia – 3.000 a.C.), Lao Tsé (China – 1.300 a.C.), Moisés (Egito
e Oriente Médio – 1.290 a.C.), Buda (Nepal/Himalaia – 600 a.C.), Confúcio
(China – 550 a.C.), Sócrates (Grécia – 469 a.C.), Aristóteles, Jesus, Maomé...
Mais recentemente, podemos citar Gandhi, Martin Luther King, Mandela, que
lutaram pelos direitos humanos, promovendo importantes avanços sociais e
políticos; Madre Teresa, Francisco Xavier, que trouxeram influências no mundo
pelo exemplo de abnegação, humildade e amor; além de muitos outros, com papel
de destaque em esferas locais e regionais, e os grandes mestres das Ciências e
suas descobertas.
Entre os judeus, diversos profetas (Moisés,
Davi, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Miqueias, Zacarias, Malaquias) anunciavam
o Messias, filho de Deus, que viria trazer grandes transformações, justiça e
amor. Buda, Jesus e outros também propagaram a vinda de continuadores à obra de
execução do Plano Divino na Terra.
“Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir
com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência,
que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma
casa ao Meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu Lhe
serei Pai, e Ele Me será Filho. ...”
Samuel (II, 7: 12-14)
“Não sou o primeiro Buda que existiu
na terra, nem serei o último. No tempo devido outro Buda levantar-se-á no
mundo, um santo, um ser divinamente iluminado...”
Buda
“E eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador (...) a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas
as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
Jesus (João, 14: 15 a 17 e 26)
Tudo isso representa alguns exemplos que apoiam a percepção de
que o Plano Divino contempla todas as criaturas e que o tempo para sua
realização é longo, até se confundir com a eternidade, uma vez que a perfeição
até Deus é infinita. Deus não tem pressa! Por isso, é imprescindível que haja a
sucessão de experiências (vidas) aqui na Terra. Afinal, o que se consegue individualmente
em uma vida de apenas cem anos? O que a Humanidade como um todo conseguiu
nesses milhares de anos? Individual e coletivamente, estamos ainda tateando na
escuridão da ignorância em busca da luz, da perfeição.
Embora mais de 5 bilhões de pessoas aceitem a ideia da reencarnação
– tema tão antigo quanto Pitágoras, Empédocles, Sócrates, Platão, Apolônio, e que
é natural para a maioria das filosofias orientais –, no Ocidente algumas
religiões conservadoras relutam em considerá-la e estudá-la, temerosas talvez por
terem de abrir mão de princípios cristalizados, ainda que a própria Bíblia, em
que essas igrejas se fundamentam, em várias situações a ela faz referência. Felizmente,
tudo parece convergir para essa compreensão. Sem dúvida, em breve tempo, a
própria Ciência cuidará de demonstrar sua naturalidade.
“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.”
(Allan Kardec)
“Em verdade, em verdade vos digo que
ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.” (...) “Tu és mestre de Israel e não sabes disso?”
Jesus (João, 3: 1 a 12)
“É verdade que Elias deve vir e
restabelecer as coisas; mas eu vos declaro que Elias já veio e não o
conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. É assim que eles farão sofrer o Filho do Homem.”
Jesus (Mateus, 17: 10 a 13)
Então os discípulos
compreenderam que ele lhes falara de João Batista.
“Se quiserdes compreender o que vos
digo, ele mesmo (João Batista) é o EIias que há de vir. Ouça-o aquele que tiver
ouvidos de ouvir.”
Jesus (Mateus, 11: 12 a 15)
Ainda
com base na Bíblia, se os profetas anunciavam ao povo de sua época a vinda do
Messias, que traria a solução de muitos de seus problemas, um reino de justiça,
com que propósito alimentavam a esperança dessas pessoas se o Messias só
chegaria centenas de anos depois, quando nenhuma delas estaria mais aqui? Também
Jesus prometeu a seus contemporâneos o Consolador, “que vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos
tenho dito”. Em que momento de sua vida aquelas
pessoas puderam identificar o Consolador, com as características assinaladas
por Jesus? Não há outra forma de entender essas promessas a não ser com a sucessão
de vidas (a reencarnação). Então, por essa compreensão, foram aquelas mesmas
“pessoas” que renasceram ao tempo do Messias, presenciando-o ou recebendo sua
influência; do mesmo modo que são aquelas mesmas “pessoas” ao tempo de Jesus
que recebem hoje a manifestação do Consolador, por intermédio das múltiplas
manifestações da Inteligência Superior que, pela mediunidade, nos esclarecem
acerca de muitas coisas e nos relembram, com mais clareza, os ensinamentos de
Jesus.
Jesus, não há dúvida, “encarnou”, se fez homem, com a
finalidade de renovar a mentalidade, a compreensão dos ensinamentos até aquela
época, impulsionando a Humanidade no processo de desenvolvimento, apresentando-se
como modelo, em todos os aspectos: no pensar, no falar, no agir, buscando a
harmonia e a sintonia com as Leis do Criador.
“Não vim revogar a Lei, e sim
cumpri-la.”
Jesus (Mateus, 5: 17)
Essa afirmação de Jesus novamente nos induz
a pensar no que foi posto acima: desde os tempos mais remotos, o Plano Divino
se serviu de espíritos mais esclarecidos que “(re)encarnaram” na Terra com o
objetivo de acelerar o crescimento da Humanidade em todas as esferas: Ciências,
Filosofia, Religião – tecnologia, medicina, comunicação, política, direito...
Jesus não veio revogar, mas sim dar continuidade e aperfeiçoar a execução da
Obra de Deus.
E isso tem ocorrido sempre, de acordo com os estágios de
desenvolvimento e nossa capacidade de assimilação e entendimento, ainda que em
meio a guerras, epidemias, cataclismas e outras tantas adversidades a que
estamos sujeitos.
A existência desses fenômenos, na aparência negativos, de modo
algum vem contrapor-se à ideia de Deus, pura bondade e justiça! Ao contrário,
pois fazem parte de um processo de educação do espírito, cuja meta é levá-lo a
se depurar, se purificar. Analogias como a escola, a lapidação do diamante e a
escultura na pedra nos dão ideia de por que somos submetidos a tais métodos de
construção e aperfeiçoamento de caráter e iluminação – a transformação de
vícios em virtudes, da sombria ignorância em sabedoria e luz. O Criador, como
pai amoroso, quer todos os seus filhos “formados” e felizes!
Por princípio, Deus – detentor de todos os atributos
imagináveis e inimagináveis de absoluta perfeição – não criou o mal. O mal e
toda sorte de sofrimento têm sua origem e causa na imperfeição e na ignorância;
portanto, naquilo que ainda está em processo de realização ou em inconsciência.
Como há muito tempo ouvimos: o mal é a ausência do bem.
Assim como uma criança comete todo tipo de erro e risco por
desconhecimento e inexperiência, nós “adultos” também o fazemos, no campo da
evolução, por não sabermos ainda a
distinção e a vivência do bem e do amor.
Para a compreensão desse processo, porém, faz-se necessário um
olhar além de apenas uma vida, mas a toda a existência, na qual tudo se
encadeia, se justifica, se completa. A Lei de Ação e Reação – “O que se planta
se colhe” – se aplica ao longo da existência, na sucessão de experiências e
vidas, em que somos os herdeiros de nós mesmos, confrontamos os resultados de
nossas ações, respondemos por nossos erros, em relação a nós e aos outros, e
somos avaliados por nosso mérito ou por nossas dívidas.
Diante da dor e do sofrimento, procuremos a causa: se não a
encontrarmos nesta vida, certamente estará em outra, num passado mais distante.
E não se trata de castigo divino, mas um processo de aprendizado e
desenvolvimento. Nós devemos ser os autores de nós mesmos, de nossa realização.
Deus nos criou simples e incompletos para que nós nos tornássemos o mais
perfeitos possível. Dotados do livre-arbítrio, respondemos por todos os nossos
atos, bons e maus – ou seja, certos e errados –, corrigindo-os ou sublimando-os
no tempo que for necessário.
“Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai,
que está nos céus.”
Jesus (Mateus, 7: 21 a 23)
“Ainda
que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria
como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a
ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria.”
Não
há dúvida de que, das leis universais, a principal é a Lei do Amor, pois a ela
estão submetidas todas as outras – o amor engloba em si todas as virtudes.
Assim observamos em toda a vida pública de Jesus, tanto no que ele pregava
quanto em suas atitudes e modo de viver. Sendo ele nosso modelo, o amor é o
único caminho, a verdade e a vida!
“Eu vos dou um novo mandamento:
amai-vos uns aos outros. Assim como eu vos amei, deveis vós amar uns aos
outros.”
Jesus (João, 13: 34)
A vida é um eterno relacionamento. Entre nós e os outros,
entre nós e a Natureza, entre nós e Deus. O amor nasce nessas relações, cresce por
meio delas, e finalmente se realiza com elas.
Trechos do livro A Cabana:
“... há milhões de motivos para
permitir a dor, a mágoa e o sofrimento em vez de erradicá-los, mas a maioria
desses motivos só pode ser entendida dentro da história de cada pessoa. (...)
Vocês é que abraçam o medo, a dor, o poder e os direitos em seus
relacionamentos. Mas suas escolhas também não são mais fortes do que meus
propósitos, e eu usarei cada escolha que vocês fizerem para o bem final e para
o resultado mais amoroso.”
(A
Cabana – diálogo de Deus com Mack)
“... eu crio um bem incrível a partir
de tragédias indescritíveis, mas isso não significa que as orquestre. Nunca
pense que o fato de eu usar algo para um bem maior significa que eu o provoquei
ou que preciso dele para realizar meus propósitos. Essa crença só vai levá-lo a
ideias falsas a meu respeito. A
graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você
encontrará a graça de inúmeras maneiras.”
(A Cabana – diálogo de Deus com Mack)
“... meus propósitos não existem para o
meu conforto nem para o seu. Meus propósitos são sempre e somente uma expressão
de amor. Eu me proponho a trabalhar a vida a partir da morte, a trazer a
liberdade de dentro do que está partido, a transformar a escuridão em luz. O
que você vê como caos eu vejo como desdobramento. Todas as coisas devem se
desdobrar, ainda que isso ponha todos os que eu amo no meio de um mundo de
tragédias horríveis, mesmo os que são mais próximos de mim.”
(A Cabana – diálogo de Deus com Mack)
Há
muitas fontes de informação, esclarecimento, conhecimento. Não aproveitá-las é
aninhar-se na escura inconsciência, perdendo-se no sonolento comodismo e
desperdiçando a melhor ferramenta de que dispomos, a inteligência.
Ler um
bom texto é como acender um farol a iluminar o caminho para a sabedoria.
Luiz Teodoro – 18-6-2015